Golpe de Airdrops:
A popularização das criptomoedas e dos tokens de airdrop abriu portas para estratégias de marketing criativas e formas de distribuição comunitária que pareciam revolucionárias. No entanto, junto com a inovação veio um problema gigantesco: a fraude em larga escala.
Recentemente, investigações revelaram esquemas altamente organizados que operam verdadeiras fazendas de smartphones — com mais de 30.000 aparelhos trabalhando em sincronia para capturar recompensas de airdrops de forma fraudulenta.
Essas fazendas são mais do que uma curiosidade exótica: são uma ameaça real à credibilidade do ecossistema cripto. Neste artigo, vamos explorar como funcionam, por que são tão lucrativas, quais são os riscos para os projetos legítimos e o que pode ser feito para combater essa fraude.
O que são Airdrops de Criptomoedas?
Os airdrops nasceram como uma solução inteligente para projetos novos se popularizarem. Em vez de gastar milhões em publicidade tradicional, muitos protocolos de blockchain distribuem gratuitamente uma quantidade de tokens para quem cumprir certas tarefas, como:
✅ Compartilhar no Twitter ou Facebook.
✅ Seguir o projeto no Telegram.
✅ Conectar uma carteira.
✅ Indicar amigos.
Isso cria engajamento orgânico, atrai usuários e espalha a marca. A ideia é premiar quem ajuda o projeto a crescer.
Mas onde há dinheiro fácil, surgem os oportunistas. E os airdrops se tornaram alvos perfeitos para fraudes automatizadas.
Como funcionam os Golpe de Airdrops:
Os Golpe de airdrop não é feita com um ou dois celulares. Envolve milhares de aparelhos organizados de forma industrial. Em fotos vazadas de investigações, é comum ver salas apertadas com fileiras de racks, cada um com dúzias de smartphones conectados e carregando simultaneamente.
Esses celulares baratos, muitas vezes comprados em lotes por preços baixos (às vezes US$ 1 por unidade em liquidações ou reuso), são programados para automatizar tudo:
✅ Criar contas falsas em massa em redes sociais.
✅ Cumprir as tarefas exigidas (curtir, seguir, comentar).
✅ Fazer o “claim” do airdrop.
✅ Repetir com outra conta.
Em alguns casos, bots conseguem até interagir com CAPTCHAs ou usar serviços humanos para resolver os mais difíceis. Com isso, as fazendas conseguem parecer usuários reais, enganando verificações básicas.
AI controlled Bot Farm.
100s of them tossing 1000s of comments and postings designed to agitate you. Polarize you. Offend you.
Disempowering you. pic.twitter.com/pXouvqdRZf
— Brian Roemmele (@BrianRoemmele) May 26, 2025
Investimento inicial, lucro esperado
Para montar uma dessas operações, o custo pode chegar a US$ 30.000 ou mais — só em aparelhos.
Some-se a isso:
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Energia elétrica.
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Internet.
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Staff para manutenção e troca de chips.
Mas para os golpistas, o custo é pequeno comparado ao potencial de lucro.
Imagine um airdrop que distribui US$ 5 por usuário. Com 30.000 contas, o golpe embolsa US$ 150.000 em uma única campanha.
Muitos projetos menores não possuem monitoramento antifraude robusto, o que transforma o crime em um investimento com retorno garantido.
Um ciclo que se alimenta
A demanda por bots de airdrop cresceu tanto que existem empresas especializadas vendendo soluções prontas:
✅ Scripts para automação de cadastro.
✅ Gerenciadores de contas falsas.
✅ Ferramentas para clonar perfis reais e evitar banimentos.
Em grupos de Telegram e fóruns clandestinos, há leilões de bases de dados de contas falsas já “aquecidas”, prontas para participar de airdrops.
É um verdadeiro mercado paralelo que se alimenta do dinheiro dos próprios projetos.
Exemplos reais e relatos
Reportagens internacionais já mostraram locais na Ásia e Europa Oriental onde salões inteiros são dedicados a isso. Investigadores afirmam que há operações semelhantes em países em desenvolvimento na América Latina, incluindo regiões mais pobres do Brasil.
As fazendas não visam apenas grandes projetos. Muitas vítimas são startups Web3 pequenas, que confiam em airdrops para crescer.
Um desenvolvedor que preferiu anonimato contou:
“Nós pensávamos que teríamos 10.000 usuários reais. Depois vimos que 8.000 eram bots que revendiam nossos tokens no mesmo dia. Foi um desastre.”
Impacto no ecossistema cripto
A existência dessas fazendas prejudica:
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Distribuição justa: usuários reais recebem menos ou nada.
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Preço do token: venda em massa derruba o valor.
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Confiança no projeto: comunidade desanima.
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Reputação geral do mercado: novos investidores ficam céticos.
Airdrops deveriam criar redes mais fortes e distribuídas. Mas, quando mal planejados, acabam financiando fraudadores em larga escala.
Por que é tão difícil combater?
Desenvolvedores tentam reagir:
✅ Implementando provas de humanidade (Proof of Humanity).
✅ Usando verificações KYC opcionais.
✅ Limitando uma conta por carteira.
Mas mesmo essas barreiras têm falhas. Os golpistas evoluem constantemente. É uma corrida armamentista digital: toda barreira técnica gera uma contramedida.
Em muitos países, a aplicação da lei é fraca ou inexistente para crimes cibernéticos, especialmente envolvendo cripto.
Soluções possíveis
Para reduzir esse tipo de fraude, especialistas recomendam:
✅ Airdrops segmentados para comunidades conhecidas.
✅ Verificação social real (ex. POAP, eventos presenciais).
✅ Limites rígidos por dispositivo ou IP.
✅ Monitoramento comportamental (padrões de login e saque).
✅ Incentivos de longo prazo (bloqueio de tokens por vesting).
Nenhuma solução é perfeita, mas combinadas, elas podem desencorajar fazendas industriais.
Conclusão
O sonho de criar comunidades engajadas com airdrops está em risco pela ação de operações fraudulentas altamente organizadas. As fazendas de celulares — com milhares de aparelhos — são o lado mais visível de um mercado cinza que lucra com a ingenuidade de projetos novos.
Para quem constrói no mundo Web3, o desafio é pensar com cuidado: como distribuir tokens de forma justa e segura?
Enquanto isso, a lição é clara: não existe almoço grátis — nem airdrop sem fraude — sem investimento em segurança e verificação.