O mercado financeiro global ganhou um novo fôlego nesta sexta-feira, com as chances de um corte nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro saltando para mais de 70%. Essa reviravolta, impulsionada por declarações dovish de autoridades do banco central americano, reacende o debate: será que esse sinal de afrouxamento monetário é o catalisador que o Bitcoin precisa para sair de sua fase defensiva atual, ou os investidores em criptoativos continuarão céticos diante das turbulências recentes?
Bitcoin Hoje
O Cenário Macro: De Queda para Alta nas Expectativas de Corte
De acordo com a ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de uma redução de 25 pontos-base na taxa de fundos federais – baixando o intervalo de 3,75%-4,00% para 3,50%-3,75% – na reunião de 9 e 10 de dezembro agora gira em torno de 72%. Essa marca representa uma recuperação impressionante em relação aos 30% registrados há poucos dias, quando dados econômicos mistos e um blecaute de informações governamentais azedaram o humor dos mercados.
O pivô veio das palavras do presidente do Fed de Nova York, John Williams, que na quinta-feira (21) afirmou que o banco central pode prosseguir com cortes “no curto prazo” sem comprometer a meta de inflação de 2%. Essa visão conciliou divergências entre analistas: enquanto JPMorgan, Standard Chartered e Morgan Stanley recuaram de suas apostas em um corte imediato, citando a criação de 119 mil vagas de emprego em setembro e uma taxa de desemprego de 4,4% como sinais de resiliência econômica, instituições como Citi, Deutsche Bank e Wells Fargo mantiveram o otimismo, interpretando o leve aumento no desemprego como brecha para mais estímulos.
Vale lembrar que o Fed já aplicou dois cortes em 2025, o mais recente em 29 de outubro, encerrando também o aperto quantitativo a partir de 1º de dezembro. Os mercados agora precificam não só o movimento de dezembro, mas uma trajetória de alívio contínuo em 2026, desde que a inflação permaneça sob controle. O rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos caiu cerca de 60 pontos-base ao longo do ano, e as expectativas de inflação (breakevens de TIPS) pairam levemente acima de 2,2%, sugerindo que os investidores confiam em uma desinflação ancorada.
Bitcoin em Terreno Frágil: Queda Recente e Sinais de Recuperação Tímida
Enquanto o macro melhora, o Bitcoin patina. Entre 20 e 21 de novembro, o preço despencou de US$ 91.554 para US$ 80.600, antes de se recuperar parcialmente para US$ 84.117 até o fechamento do artigo. Essa volatilidade levanta dúvidas sobre se os US$ 126 mil atingidos recentemente marcam o pico local do ciclo, ou se a mínima de quase US$ 80 mil sinaliza uma correção mais profunda.
O ativo digital agora oscila abaixo de níveis críticos, como o custo médio dos detentores de curto prazo e a banda de desvio padrão negativa de -1. Dados on-chain revelam que cerca de 6,3 milhões de BTC estão em posições com prejuízos não realizados, concentrados em perdas entre -10% e -23,6% – um padrão que evoca a fase de consolidação do bear market de 2022, sem sinais de capitulação total. O preço se situa entre o Preço Realizado dos Investidores Ativos (cerca de US$ 88.600) e a Média Verdadeira de Mercado (próxima de US$ 82.000), delimitando uma zona de risco entre correção moderada e mergulho mais acentuado.
Sentimento dos Traders: Proteção em Alta, Aposta Altista em Baixa
Os derivativos contam uma história de cautela. O interesse aberto em contratos futuros diminuiu junto com o preço, indicando que os traders estão reduzindo alavancagem em vez de dobrar a aposta. No mercado de opções, prêmios para proteções contra quedas chegam a dois dígitos, com a volatilidade implícita subindo para patamares vistos na liquidação de outubro. O skew – inclinação das apostas – pende fortemente para o negativo, com compras expressivas de puts de uma semana no strike de US$ 90 mil, contrastando com exposições modestas em calls.
Análises da Glassnode apontam que dealers estão com posições delta curtas, hedgeando via vendas de futuros, o que amplifica a pressão vendedora em momentos de fraqueza. Fluxos líquidos mostram saídas negativas nos ETFs de Bitcoin à vista nos EUA, com uma média de sete dias de drenagem e quase US$ 3 bilhões em resgates só em novembro – um contraste gritante com o otimismo macro.
Contexto Histórico: Liquidez como Aliada do BTC
Pesquisas da S&P Global destacam que, desde 2017, a correlação negativa entre Bitcoin e rendimentos reais se fortaleceu: períodos de afrouxamento de política monetária e expansão de liquidez coincidem com rallies do BTC. Da mesma forma, estudos da Bitwise ligam o desempenho do Bitcoin ao crescimento da oferta monetária global (M2): quando essa acelera junto a políticas mais frouxas do Fed, o criptoativo tende a brilhar.
Implicações para o Mercado de Cripto: Um Novo Ciclo de Liquidez ou Ilusão Passageira?
Se o corte de dezembro vier acompanhado de orientação para mais alívios, ele pode comprimir rendimentos reais, inundar o sistema com liquidez e inverter a dinâmica atual – transformando o Bitcoin de um ativo que sofre com o aperto em um que surfa na onda de estímulos. Historicamente, isso pavimentaria o caminho para retornos superiores.
No entanto, o cenário é delicado. Se o movimento for visto como isolado – um “corte único” com tons hawkish –, os rendimentos reais podem se manter altos, a liquidez escassa, e o Bitcoin preso abaixo da resistência de US$ 95-97 mil. Sem reversão nos fluxos de ETFs ou apetite por risco, o mercado de cripto pode permanecer em modo de defesa, com traders demandando mais convicção do Fed para abandonar as proteções.
Em resumo, os 70% de chance de corte oferecem um vislumbre de otimismo, mas o veredito final depende da narrativa do banco central. Para os holders de Bitcoin, o dilema é claro: apostar na macro ou esperar por sinais mais concretos no ecossistema cripto? O fim de novembro trará respostas – e possivelmente volatilidade extra. Fique ligado para atualizações.
fonte: cryptoslate
Deixe um comentário