O Departamento de Justiça (DOJ) dos Estados Unidos, sob a administração Trump, pressionou por uma sentença máxima de 12 anos de prisão contra Do Kwon, o fundador da criptomoeda Terra, em um processo que ecoa o rigor aplicado ao ex-CEO da FTX, Sam Bankman-Fried (SBF). A recomendação, apresentada em documento judicial na quinta-feira, destaca a gravidade da fraude que causou perdas de mais de US$ 40 bilhões em 2022, desencadeando uma crise no mercado de criptoativos.
Do Kwon, sul-coreano de 34 anos, admitiu culpa em agosto por conspiração para fraude e fraude eletrônica, como parte de um acordo que evitou um julgamento por júri. A sentença final será proferida em 11 de dezembro, em Manhattan, pelo juiz federal Paul Engelmayer. Apesar de Kwon ser tecnicamente elegível para até 25 anos de detenção, o acordo limita o pedido do DOJ a 12 anos – mas os promotores insistem no máximo, comparando o caso ao de SBF, condenado a 25 anos por fraudes que derrubaram sua exchange de US$ 32 bilhões.
Fuga Internacional e o Colapso da Terra
A saga de Kwon ganhou contornos dramáticos após o colapso das stablecoins UST e LUNA em maio de 2022, que evaporou US$ 40 bilhões em valor de mercado e contaminou o ecossistema cripto, afetando gigantes como a FTX. Acusado de manipular o algoritmo da UST e promover falsas promessas de estabilidade, Kwon fugiu da Justiça sul-coreana e foi preso em Montenegro em 2023 com passaportes falsos. Após uma batalha jurídica por extradição, ele chegou a Nova York no início deste ano.
Os advogados de Kwon pediram apenas cinco anos de prisão, ignorando precedentes como o de SBF. Em resposta, o DOJ rebateu com veemência: “O juiz Kaplan impôs 25 anos a Bankman-Fried, que, como Kwon, cometeu uma fraude de proporções impressionantes em seus vinte e poucos anos e atribuiu sua conduta criminosa audaciosa, em parte, à juventude e inexperiência”, escreveu o procurador federal. Eles alertaram contra uma “disparidade de 20 anos” entre as penas, argumentando que a escolha de Kwon por um acordo não atenua a escala do dano.
Comparações com Outros Escândalos Cripto
O DOJ também invocou a sentença de 12 anos imposta a Alex Mashinsky, ex-CEO da Celsius Network, por desvio de criptoativos e manipulação de preços, que resultou em perdas de US$ 5 bilhões. “Embora Mashinsky não tenha sido detido antes do julgamento e contestado aspectos centrais de sua conduta, ele tampouco obteve um passaporte falso e tentou viver como fugitivo em país estrangeiro”, destacou o documento. “De qualquer forma, a magnitude do crime de Mashinsky empalidece em comparação ao de Kwon: US$ 5 bilhões versus US$ 40 bilhões em perdas para investidores.”
Essas referências reforçam a estratégia do DOJ de uniformizar punições em fraudes cripto de alto impacto, sinalizando um endurecimento regulatório sob a era Trump. Analistas veem o caso como um marco para deter “cowboys” do setor, especialmente após o contágio de 2022 que abalou a confiança global em finanças descentralizadas.
Kwon, outrora ídolo da comunidade cripto por sua visão de “dinheiro algorítmico”, agora enfrenta não só a cadeia, mas o peso de um legado tóxico. Sua defesa argumenta juventude e arrependimento, mas o DOJ prioriza justiça restaurativa para vítimas espalhadas pelo mundo. O veredicto de 11 de dezembro pode redefinir o tom para futuras condenações no Vale do Silício das criptomoedas.
Fonte: Decrypt.co