China Suspende Compras de Ouro: Mudança de Estratégia ou Movimento Temporário?
Mudança Estratégica da China
Enquanto a Índia repatriou 100 toneladas de ouro de Londres, a China sinalizou uma direção oposta ao interromper suas compras de ouro. Os números recentes mostram uma estagnação, com zero toneladas compradas em abril e apenas duas toneladas em maio, em comparação com as 225 toneladas consumidas em 2023. A China, tradicionalmente um dos maiores compradores de ouro desde 2002, parece estar revisando sua estratégia.
Histórico das Compras de Ouro pela China
A China iniciou sua agressiva aquisição de ouro em 2002, após a invasão do Iraque pelos EUA, quando Saddam Hussein decidiu vender petróleo em euros em vez de dólares. Essa decisão marcou o início de uma estratégia de diversificação de reservas. Em 2008, com a introdução do Quantitative Easing pela Fed, a China intensificou suas compras. Hoje, o país possui 2.264 toneladas de ouro, em comparação com as 400 toneladas de 2002.
Outros países também aumentaram significativamente suas reservas de ouro, como Rússia, Índia, Singapura, Polônia e Turquia. Nações menores, como a República Tcheca, acumularam continuamente suas reservas, que atualmente chegam a 40 toneladas.
Motivações dos Bancos Centrais para Comprar Ouro
A compra de ouro por bancos centrais é influenciada por diversos fatores, incluindo tensões geopolíticas e a busca por estabilidade econômica. O Ocidente e a aliança sino-russa estão envolvidos em um jogo perigoso na Ucrânia e na Palestina, lembrando uma nova Guerra Fria. O ouro permite que a China armazene seus significativos ganhos comerciais, servindo como um substituto para o dólar.
No primeiro trimestre, as reservas em dólares da China, principalmente em títulos do tesouro, diminuíram em US$ 50 bilhões. Apesar disso, o ouro representa apenas 5% (US$ 170 bilhões) do total das reservas cambiais da China, abaixo da média mundial de 20%.
Influências Externas e Diversificação de Reservas
O congelamento das reservas russas (principalmente em euros) incentivou Pequim a diversificar ainda mais suas reservas. As declarações de altos funcionários chineses na conferência de segurança em Singapura indicam que a posição da China em relação ao ouro não mudou substancialmente. No entanto, não é incomum que o banco central chinês deixe de comunicar suas compras de ouro, geralmente reveladas a cada cinco anos. Desde 2022, porém, as reservas de ouro da China têm sido atualizadas mensalmente, e a desaceleração em maio causou agitação no mercado.
A Busca por uma Nova Moeda de Reserva
As guerras em Donbass e Gaza dividem a comunidade internacional em campos rivais: o Ocidente (G7) de um lado e a aliança BRICS do outro. No centro dessas tensões está a hegemonia monetária americana. Desde os acordos de Bretton Woods, que estabeleceram o padrão ouro/dólar após a Segunda Guerra Mundial, a supremacia do dólar tem sido desafiada.
A ideia de que o dólar continuará como moeda suprema está sendo questionada. No Fórum Econômico de São Petersburgo, o presidente russo destacou que a participação do rublo nos pagamentos de exportação russos triplicou em 2023, chegando a 39%. A Rússia está colaborando com parceiros estrangeiros para aumentar o uso de moedas nacionais e estabelecer um sistema de pagamento independente, protegido de pressões políticas e sanções externas.
Iniciativas e Alternativas ao Sistema Financeiro Tradicional
O banco central saudita aderiu recentemente ao projeto mBridge (CBDC), desenvolvido pela China sob os auspícios do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Este projeto, lançado em 2021, envolve os bancos centrais da China, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos, representando um passo em direção ao fim do “petrodólar”.
Bitcoin como Alternativa
Apesar das iniciativas mencionadas, até o momento, o único sistema de pagamento internacional absolutamente imune à censura é o Bitcoin. Além de ser uma moeda de reserva, o Bitcoin oferece a vantagem de ser uma moeda descentralizada e segura, ao contrário da rede SWIFT, suscetível a pressões políticas.
A suspensão das compras de ouro pela China pode ser uma estratégia temporária ou uma mudança significativa em sua política de reservas. A redução na compra de ouro, combinada com a diversificação das reservas e o desenvolvimento de sistemas de pagamento alternativos, indica uma busca contínua por estabilidade e independência econômica. À medida que o mundo navega por tensões geopolíticas e mudanças econômicas, a posição da China e suas ações no mercado de ouro continuarão a ser observadas de perto.
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